Convergências em Devir
Convergências em Devir reconstrói uma série de aulas ministrada durante o segundo semestre de 2011 no Instituto de Artes, construindo um rizomático fluxo de vivências, acontecimentos e improvisos. O vídeo inter-relaciona diferentes linguagens, tanto teatrais, textuais, visuais e sonoras, buscando uma junção e significação imagética sobre o agir e pensar, percorrendo um labirinto de linguagens acumuladas.
Convergências em Devir (pesquisa apresentada em Dezembro de 2011)
Na sociedade atual, onde a informação e o tempo correm velozes, não é possível pensar em sistemas convencionais de comunicação. Cada inovação tecnológica modifica valores, hábitos e costumes, estabelecendo novos padrões de realidade cada vez mais exigentes no que diz respeito à utilização da tecnicidade. Podemos estender, este raciocínio para uma cultura globalizada, dizendo que o futuro se organiza em partículas de acontecimentos onde tende a se juntar.
Colocamos aqui a idéia de partícula para explorar o conceito de hibrido. Fruto do efeito da globalização o hibridismo se expande pelos diversos campos do conhecimento, assim como na ciência, filosofia e arte, dando vazão a uma nova complexidade que regem os ambientes do conhecimento, mais especificamente a linguagem da imagem e a escrita. Para Foulcault,
nas histórias das idéias, do pensamento e das ciências, a mesma mutação provocou um efeito inverso: dissociou a longa série constituída pelo progresso da consciência, ou a teologia da razão, ou a evolução do pensamento humano; pôs em questão, novamente, os temas da convergência e da realização; colocou em duvida as possibilidades da totalização. Ela ocasionou a individualização de séries diferentes, que se justapõem, se sucedem, se sobrepõem, se entrecruzam, sem que se possa reduzir-las a um esquema linear. (Foulcault; 1997, p.9)
Livro de Cabeçeira - Peter Greenaway
Cada inovação tecnológica modifica valores, hábitos e costumes, estabelecendo novos padrões de realidade cada vez mais exigentes no que diz respeito à utilização da tecnicidade, possibilitando maior liberdade dos limites criativos, contribuindo para a expansão em processo de criação entre as linguagens.
Em seu livro Caosmose, Guatarri (1982:23) nos aponta os novos processos do mundo globalizado e fala que “as convulsões contemporâneas exigem, sem dúvida, uma modelização mais voltada para o futuro e a emergência de novas práticas sociais e estéticas em todos os domínios”.
Com a convergência das mídias os realizadores manipulam seus códigos de operação constituindo uma nova forma de criação em que o hibrido se torna uma mistura heterogênea sem que suas partes se unifiquem.
Ao ser "atingido" a partir de um trabalho hibrido, o observador desencadeia um processo no qual é estimulado em sua sensibilidade, em sua memória. Para Calabrese (1987:103) “igualmente se pode reconhecer uma estética da recepção baseada em fragmento. Esta consiste na quebra casual de continuidade e da integridade de um a obra, e no gozar das partes assim obtidas e tornadas autônomas”
A Última Tempestade - Peter Greenaway - Parte 1/2
Por meio da convergência temos a possibilidade de entrarmos em inúmeras sensações e descobertas e muitas vezes captamos sentimentos que nos remete a nós mesmos, à convivência com o outro e nossa condição existencial. Para Heidegger (1999:77) “o movimento percebido ou realizado deve ser compreendido evidentemente não no sentido de uma forma inteligível (idéia), que se atualizaria numa matéria, mas de uma forma sensível (gestalt) que organiza o campo perceptivo em função de uma consciência intencional em situação”
A ação que aqui é exposta parte do interior das experiências cotidianas, a ação de desenvolve no contato e diálogo com o outro e seu redor, levando em conta que é a partir da experiência que entendemos a compreensão do ser humano dentro do tempo, seus pensamentos e ações. Para Heidegger “o tempo é o ponto de partida do qual a presença sempre compreende e interpreta implicitamente o ser”, portanto se o tempo é como um registro de toda compreensão e interpretação do ser, então, as experiências adquiridas se orientam nos questionamento, descobertas e aprendizados, permitindo assim, a organização do tempo individual e coletivo.
Em seu livro Esculpir o Tempo, Tarkoviski nos fala que (1998:66) “o tempo não pode desaparecer sem deixar vestígios, pois é uma categoria espiritual e subjetiva e o tempo por nós vivido fixa-se em nossa alma como uma experiência no interior do tempo”
A Última Tempestade - Peter Greenaway - Parte 2/2
As vivências individuais e coletivas fixadas pelo tempo determinam o sistema de culturação das sociedades, sendo elas carregadas por um intenso processo subjetivo. Para Guatarri (1982:20) a definição da subjetividade é “o conjunto das condições que torna possível que instâncias individuais e/ou coletivas estejam em posição de emergir como território existencial auto referencial, em adjacência ou em relação de delimitação com uma alteridade ela mesma subjetiva”
Com a convergência e potencialidade de criação, abre-se a possibilidade de significados múltiplos. Intensificam-se as formas de dizer e amplia nossa percepção, sensibilidade e visão de mundo. Segundo Guatarri as intâncias subjetivas,
“implicam conjuntamente, instâncias humanas inter-subjetivas manifestada pela linguagem e instancias sugestivas ou identificatórias concernentes a etologia, interação, dispositivos maquínicos, tais como aqueles que recorrem ao trabalho com computador, universos de referencias incorporais, tais como aqueles relativos a musica e as artes plásticas...Essa parte não-humana pré-pessoal da subjetividade é essencial, já que é a partir dela que se pode desenvolver sua heterogênese. (Guatarri; 1992, p.20)
Esta integração entre as linguagens dos sons, textos e imagens promove uma redefinição dos padrões até então “estabelecidos”, sendo o seu futuro ainda inserto quanto a possibilidade de construção de novos meios de percepções tanto do conhecer, ouvir, ver e comunicar, ampliando assim ao homem seu potencial de idealizar realidades.
Não sabemos mais o que é o agir a partir de nossas próprias capacidades de pensarmos o que para nós nos interessa. O sistema globalizado capitalista tem contribuido para as conquistas do mundo material e humano, disciplinando seus membros e formando novas gerações nos valores que dão sustentação à sociedade vigente; alienando as pessoas, seja através de filantropias, assistencialismo ou acomodações por parte de algumas áreas do saber; com suas promessas falsas, provenientes de “fontes oficiais fidedignas”, a qual é imposta o que devemos pensar, comer, vestir, morar e se comportar; suas regras que buscam estabelecer a rigidez, a hierarquia e a burocracia, ao invés de realmente servir as finalidades humanas.
Daqui em diante tem-se por sabido que não poderíamos recorrer, para descrevermos o mundo bruto, a nenhuma dessas “verdades” estabelecidas em que nos baseamos diariamente, idéias essas crivadas, na realidade, de obscuridades, e das quais só poderiam ser expurgadas através da vocação do mundo bruto e do trabalho de conhecimento que as colocou sobre ele como superestruturas. (Heidegger; 1999, p.153-154)
Origens e Processos Formais nas Multimediações da obra de Peter Greenaway
Precisamos de novas experiências, livres, preferencialmente não hierárquica, plenas de entusiasmos e experiências de aprendizagem, onde há uma união principalmente por um sentido profundo de comunidade e que não tenha nenhum vestígio de autoridade, e que seus projetos sejam eficazes, diversificados e criativos. Para Calabrese “ o progresso das idéias nasce quase sempre da descoberta de relações impensadas, de ligações inauditas, de redes inimaginadas. p 21 As historia se ramificam e se entrecruzam, ao invéz de percorrer um caminho (narrativa) linear, as seqüências percorrem outras naturezas e dimensões. Para Lévy (1995:21) “a diversidade e o afluxo dos saberes hoje é tal que nenhum indivíduo, e principalmente nenhum grupo fechado, pode mais possuir o conjunto dos conhecimentos como ainda era possível nas sociedades arcaicas ou tradicionais. A inteligência, o pensamento, o conhecimento estão condenados à partilha, à abertura.”
Cada vez mais que a descoberta de novas possibilidades de existências, depende de nossas próprias vivencias, experiências e descobertas de novas percepções interiores de nós mesmos e do mundo, onde nos aventuremos a entrar em contato intenso com todas as leituras que temos do nosso ser, e a partir disso adquirir maior harmonia interior, sendo assim, que os planos e projetos pessoais contribua junto ao coletivo e que estes sejam o norte para nosso caminhar.
Shekespeare - Histórico - Parte 1/2
Shekespeare - Histórico - Parte 2/2
Shekespeare – ApresentaçãoTeatral
Rodo Cotidiano
Quando eu crescer
Leituras
BORGES, Jorge Luis. Obras completas. vol. 1. São Paulo: Globo, 1998
CALABRESE, Omar. A idade Neobarroca. São Paulo: Martins Fontes, 1987
FOULCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997
GUATARRI, Félix. Caosmose um novo paradigma estético. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Petrópolis: Ed. Vozes 8ºed. 1999
LÉVY, Pierre e AUTHIER, Michel. As árvores do conhecimento. São Paulo: Ed. Escuta, 1995
TARKOVISKI, Andrei. Esculpir o tempo. São Paulo: Martins Fontes, 1998
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